Em 1996, eu fui à Paris inaugurar a minha exposição “Foco na
MPB”, na Embaixada do Brasil. Eu convidei a Anne Pierre, uma francesa que eu
não via há anos, que tinha sido minha paixão de adolescência. No coquetel de
inauguração, para minha surpresa, eu a reconheci imediatamente entre os
convidados, com a mesma carinha de quando a conheci na década de setenta. Lá
estava ela reluzente, grávida de nove meses. Como eu não pude dar a devida
atenção, combinamos de almoçar no dia seguinte num restaurante. Durante o
almoço ela me contou que a qualquer momento o bebê poderia nascer. Ela disse
que a criança era uma produção independente, e que o pai era um cineasta que se
encontrava filmando no exterior. De repente, no restaurante ela começou a
sentir fortes contrações, eu a ajudei a andar até um ponto de táxi, e fomos
direto para o hospital. Eu fiquei aguardando o tempo todo na sala de espera,
segurando as flores que eu havia comprado às pressas nas proximidades. Duas
horas depois nasceu a Marilou. Quando a enfermeira veio avisar que a criança
tinha nascido, diversas pessoas vieram me felicitar, certas que eu era o pai da
mocinha que acabava de chegar ao mundo. Foi tão comovente o gesto dessa gente,
que preferi não desaponta-las, eu apenas agradecia as manifestações de carinho.
Dois dias depois, Marilou e eu fomos fotografados pela própria Anne Pierre na
saída da maternidade.